A da península Ibérica,
correspondente ao futuro território de Portugal e Espanha, foi
conquistada pelos árabes entre os anos de 711 — com a vitória na
batalha de Guadalete sobre o exército dos visigodos — e 716. Os
invasores chamaram ao território por si conquistado al-Andalus (que
significa “o Paraíso”).
A dominação islâmica não teve a
mesma duração, nem as mesmas repercussões, em todas as zonas do
território que hoje pertence a Portugal. Foi fraca nas Beiras, bem
como a norte do rio Douro, principalmente na região onde viria a
constituir-se o Condado Portucalense.
O pequeno reino cristão das Astúrias
conseguiu, em 754, expulsar definitivamente os muçulmanos para o sul
do Douro. De facto, foi no sul de Portugal que a presença árabe
deixou marcas profundas, comparáveis à contribuição da presença
romana na estrutura do que, mais tarde, seria Portugal.
Na Estremadura desenvolveram-se os
centros urbanos de al-Usbuna (Lisboa) e Santarin (Santarém). No
Baixo Alentejo, as cidades de Baja (Beja) e Martula (Mértola) e, no
Algarve — onde a presença muçulmana se manteve por seis séculos
— surgiram Silb (Silves) e Santa Mariya al-Harum (Faro).
Os árabes — designação genérica
de um conjunto de populações berberes, sírias, egípcias e outras
— substituíram os antigos senhores visigodos. Mostraram-se, em
geral, tolerantes com os usos e costumes locais, admitindo as
práticas religiosas das populações submetidas e criando condições
para os frutíferos contactos económicos e culturais que se
estabeleceram entre cristãos e muçulmanos.
Os vestígios materiais da longa
permanência muçulmana ficam aquém das expectativas, principalmente
porque a política cristã de reconquista foi a de "terra
arrasada". Cada localidade retomada aos árabes era destruída e
os objetos e construções queimados em fogueiras que ardiam durante
dias. Mas restaram alguns elementos que atestam este período da vida
portuguesa, principalmente nas muralhas e castelos, bem como no
traçado de ruelas e becos de algumas cidades do sul do país. Não
restaram grandes monumentos, facto que se explica pela situação
periférica do território português em relação aos grandes
centros culturais islâmicos do sul da península.
A igreja matriz de Mértola é a única
estrutura em que se reconhecem os traços de uma mesquita. São
testemunhos da ascendência árabe os terraços das casas algarvias,
as artes decorativas, os azulejos, os ferros forjados e os objetos de
luxo: tapetes, trabalhos de couro e em metal.
Com a tradução de inúmeras obras
científicas, desenvolveram-se a química, a medicina e a matemática,
sendo de origem árabe o sistema de numeração ocidental.
A influência árabe foi
particularmente importante na vida rural, sendo determinante o
desenvolvimento de técnicas de regadio a partir de usos peninsulares
e romanos. Através da introdução de novas plantas — o limoeiro,
a laranjeira azeda, a amendoeira, provavelmente o arroz, e do
desenvolvimento da cultura da oliveira, da alfarrobeira e da
plantação de grandes pomares (são famosos os figos e uvas do
Algarve e as maçãs de Sintra) reforçaram a vocação agrícola da
região mediterrânea.
A ocupação islâmica não provocou
alterações na estrutura linguística que se manteve latina, mas
contribuiu com mais de 600 palavras, sobretudo substantivos
referentes a vestuário, mobiliário, agricultura, instrumentos
científicos e utensílios diversos.
A ocupação islâmica do território
de Portugal terminou em 1249, quando o rei Afonso III conquistou todo
o Algarve.
Os numerosos descendentes dos árabes
que, após a Reconquista, permaneceram em Portugal, viviam nas
mourarias, arrabaldes semi-rurais junto dos muros das cidades e
vilas, das quais se conserva a memória, nos nomes e nas plantas de
mais de vinte localidades, como Lisboa e muitas outras ao sul do
Tejo.
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